Trancados na casa noturna, 1.500 pessoas ficaram entre o fogo, a fumaça e a saída obstruída pelos seguranças. Sobreviventes relatam momentos de pânico e de despreparo da casa noturna
O maior desastre da história do Rio Grande do Sul, o segundo incêndio em número de vítimas no Brasil. O país amanheceu de luto, chocado com a morte de duas centenas de jovens, numa contagem que revelava-se mais dramática à medida que as horas do domingo avançavam. Na soma do início da noite, de acordo com números oficiais, havia 233 óbitos confirmados no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, cidade a 320 quilômetros de Porto Alegre. A noite de diversão de jovens – parte deles menor de idade – de cursos e faculdades da cidade universitária transformou-se em uma catástrofe em questão de minutos: os fogos de artifício de uma banda que se apresentava no local encontraram o material altamente inflamável do isolamento acústico da casa noturna.
A fumaça matou a maioria das vítimas por asfixia, poucas por queimadura. Para o acidente ganhar esta dimensão, foi determinante uma sequência de erros e despreparo. A boate com apenas uma saída de emergência, estreita, estava com alvará vencido, e os seguranças, pelo que relataram os sobreviventes, tentaram impedir a saída dos frequentadores, pensando que ocorria uma briga no momento do pânico.
Foram instantes de desespero, no cenário dantesco que costuma ser deflagrado por esse tipo de incidente. As equipes de resgate que chegaram ao local precisaram derrubar paredes para resgatar vítimas com vida; e, no trabalho de rescaldo do incêndio, bombeiros encontraram o que foi descrito como “uma barreira de corpos”. Ainda pela manhã, a contagem era de cerca de 40 mortos. Conforme as brigadas vasculhavam o local, eram encontrados mais mortos. Outros faleceram nos hospitais. Ainda havia no início da noite, segundo informações do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, 91 pacientes internados. Trinta deles respiravam com ajuda de aparelhos.
A presidente Dilma Rousseff interrompeu sua agenda no Chile, onde acontecia a Cúpula de chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE). Dilma desembarcou na pequena Santa Maria para levar solidariedade e medidas de apoio aos sobreviventes e às famílias de todas as vítimas. A comunidade internacional manifestou condolências tão logo a repercussão do episódio ganhou os sites e telejornais de várias partes do mundo.
As dimensões da tragédia contrastam com a banalidade das causas. E trazem uma necessária reflexão: as fotos mostram que a boate Kiss não era um “cafofo”, mas uma casa noturna com capacidade próxima de 1.000 pessoas - a lotação da casa foi, provavelmente, desrespeitada. Na boate, os jovens e seus pais certamente julgavam haver alguma segurança. Não havia. Como também certamente não há instalações e pessoal adequados em uma infinidade de estabelecimentos que se multiplicam Brasil afora. O risco dos materiais inflamáveis e da presença de fogos de artifício em locais fechados está comprovado por um histórico de pelo menos seis grandes tragédias recentes em boates de várias partes do mundo.
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